A Janela ficava aberta para que o libidinoso Vento, rápido e sempre alerta, não desperdiçasse o momento.
Ele tocava-lhe as pernas, arrancava-lhe um suspiro... Cantava frases eternas lambia o pescoço como um vampiro.
O corpo era todo entregue ao invisível amante. E, mesmo que não alegue, ela o queria a todo instante. A satisfação não era tê-lo, não era dar-se completamente. Era despedir-se com um apelo: - Amanhã, não se faça ausente. Pintura de Edward Hopper
Enquanto os lábios se perseguem, em loucura cega com sabor de sangue. As mãos firmes, mudas, conseguem expressar o desejo do corpo exangue. A pele quente reverbera as notas daquela canção de união carnal. Enquanto os olhos desviam as rotas de uma lembrança sentimental. O toque terno de um sentir, mesclado à força de um desejo, contém as gotas que estão por vir. Onde, amarrotadas neste solfejo, cintilam ao longe nos olhos arrependidos; caminham exaustas nos corpos despidos. Pintura de Alex Stevenson Díaz
Mordo meus pensamentos e sinto gosto de saudade. Eventos soltos aos ventos, velados pela sobriedade.
Um fio de cabelo solto encontrado em meu travesseiro suscita um sorriso envolto em carícias de um ano inteiro. Uma palavra, talvez nunca dita, com cheiro do que foi bom, foge pelos dedos em escrita e é por todos chamada de dom. Do que vejo e sempre calo toco e não saboreio. Não guardo o sabor do que falo. Às vezes, escuto o que tateio.
Estou chorando sílabas mudas que gotejam palavras futuras suscitadas nas dores agudas, nos plurais desta vida de agruras.
No mar interno de um soluço meu peito salta em convulsão. E neste travesseiro me debruço remoendo falhas que ainda virão.
Frases cegas correm sem rumo procurando um ouvido qualquer. Palavras unidas em simples resumo, no intuito de alcançar uma fé. Enlouquecidas pele desespero, morrem exauridas em seu exagero.
Da escuridão da minha existência meus dedos correm pelo teu rosto buscando enxergar esta essência que me tira a sensação de desgosto. É este toque que me traz esperanças de ver as luzes que um dia inventei nas sombras de falsas lembranças, nos olhos que criam sua própria lei. E quando a pele eriçada tremer em um suspiro de total entrega somente meus lábios irão ver o rosto que a mim não renega. Um sol nunca visto nos queimará sem dor, sem qualquer sofrimento. E esta chama será o nosso lar mesmo que seja por um momento. Pintura de Alberto Pancorbo