quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Meu Medo


Ali está o meu medo,
Que há muito tempo me fita.
Me apontando com o dedo
E que o meu nome cita.

Aquele que matar-me quis
De preocupação e tristeza.
E nas paredes riscadas de giz
Havia meu grito de incerteza.

Minha doce e amada loucura
Que me rasga e me entorpece
Como se fosse a hora escura
Daquela vida que já fenece.

Ali está o meu medo,
Urrando alto e vitorioso.
Já não mais pede segredo
Apenas surge glorioso.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Segunda Ausência


Pensei estar certo do que eu sentia.
Pensei saber o que significas.
Pensei que suportaria...
Como não estar em agonia
se comigo não fornicas?

sábado, 4 de setembro de 2010

Sonho de um fingidor


Passados os primeiros minutos do novo dia
vou te encontrar no teu mundo.
Mas não espero por ti
porque sei que neste mundo o imprevisível é o alicerce.
Vago... vago...
Te encontro?

...

Te vejo nascer...
Brotas como uma das mais belas flores.
Nasces, e começas a me falar, a recitar, a contar...
E teu falar me leva, me emociona, me cativa.
Me faz chorar, sorrir, refletir, me faz ser eu.

Olho para ti e percebo que aqui eu não existo
porque sinto que tu és eu e que eu sou tu... que sou metade.
Metade fisicamente dividida, não psicologicamente dividida.

E tu me falas. Mas não falas pra mim porque não me vês.
Já disse que não existo.
Mas eu te ouço. E posso até deitar-me no chão de areia
e apoiar, nas mãos, o queixo, como uma criança a ouvir histórias.
E tuas palavras me fazem flutuar...

Começas uma das falas mais lindas.
Me falas daquele que te plantou aqui.
E, no final de tua fala, ele fenece
levando consigo a semente que plantara.

Não compreendi o motivo.
E ainda não entendi...

Vejo-te perdendo a cor, a cabeça baixa e tranquila
e correm lágrimas num rosto já amarelado...
Os braços pendem e a cabeça se inclina para trás.
Tua pele escurece...

O útero que te deu a vida te reclama
e começa a consumir-te...
Eu estou inerte...

Só agora, quando teu mundo me devolve os movimentos
é que corro, em vão, em tua direção
e começo a escavar, escavar...
Onde estás?

...

Volto ao meu mundo e
tento lembrar de tudo que me falaste.
Mas, só tento e não lembro...
Só recordo-me de uma coisa:
que tu estás em mim.
Não esqueci que somos um...
Fisicamente ou psicologicamente divididos?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Perdoa-me


Perdoa-me
por querer sempre estar contigo.
Perdoa-me
por afagar teus cabelos.
Perdoa-me
por querer teu abrigo.
Por desejar teus beijos
e nunca tê-los.

Perdoa-me
por, constantemente, olhar-te.
Perdoa-me
por acariciar tua pele.
Perdoa-me
por converter-te em arte.
Por querer este corpo
que a mim repele.

Pintura de Jeffrey Batchelor

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eu, poeta


Meus dedos desejavam falar,
Mas a tinta do meu tinteiro havia acabado.
E hoje, meu coração o encheu novamente,
Bombeando seu líquido vital para dar vida
A estes sentimentos grafados.

E quando minha tinta começa a coagular,
Minhas lágrimas gotejam, diluindo-a,
Para que eu continue escrevendo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Gostar é tão lindo


É tão lindo gostar de alguém.
E é mais lindo ainda gostar do que ser gostado.
Porque quando se é gostado
A procura de gostar do outro diminui,
Pois a gente gosta pra ser gostado.

É tão lindo gostar de alguém.
E também é tão lido gostar de alguém.
A mesma história se repete
Em todos os lugares e idiomas,
Seja gostar de alguém ou de alguéns

Melhor de tudo é gostar...
Gostar de várias pessoas.
Gostar de uma só.
De duas, de três... de mil.
Não importa a quantidade,
Para cada uma há um gostar diferente.
Pois a gente gosta de ser gostado
De várias formas.

domingo, 4 de julho de 2010

Saudades do seu rosto


Tenho saudades do seu rosto.
Tenho uma vontade de estar onde você está.
Uma vontade que não se explica.
Vontade de apenas estar contigo,
E mergulhar nos seus olhos.

Tenho saudades do seu rosto.
Meu peito quer explodir
Como se meu coração desejasse
Correr sozinho ao seu encontro.

Tenho saudades do seu rosto.
Saudade dos seus olhos,
Do brilho deles ao me olhar,
Da curiosidade que me causam...

Tenho saudades do seu rosto.
Dos seus lábios ao se moverem
Quando me fala.
Do seu sorriso iluminado de alegria.

Tenho saudades do seu rosto
Me olhando e sendo olhado.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Eu dentro de mim


Vasculhando meu eu...
Averiguando o que fiz e o que sou,
Percebo a construção de um outro eu.
Um outro eu dentro de um eu:
Meu mundo.

Não mais me preocuparei
Com o sangue que agora escorre em minhas mãos.
Já sinto que algo forte e implacável
É forjado com aço, sangue,
Diamantes e lágrimas.

Um outro lugar me espera.
Feito por meu ser, meus seres, meus eus...
Só basta desprender-me deste eu,
Entrar e perder-me dentro dele
E encontrar este outro (m)eu...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Vácuo


Há tanto espaço dentro de mim,

Tanto espaço que chega a me sufocar.

E o meu eu está desprevenido,

Vulnerável a qualquer perigo.

Aquela armadura colorida se despetalou,

E como um feto indefeso o meu eu

Treme com o frio da solidão.

Treme de medo.

Medo de não conseguir ser.

E eu olhando o meu eu

Chego a me perder dentro de mim mesmo.

Sinto o chão desprender-se de mim,

E, de repente, fico tão leve

Que qualquer brisa seria capaz de me jogar longe.

De me mandar para qualquer lugar.

Há tanto espaço dentro de mim,

Que eu sinto que já não sinto mais de tanto sentir.

domingo, 25 de abril de 2010

Assassínio


Então, no peito, a solidão explode.
Enchendo-se de lágrimas cinzentas,
Desesperado, o coração não pode
Suportar este mundo de tormentas.

E os muros ficam cada vez mais altos,
Formando uma cúpula ao meu redor.
Meus olhos escuros como basaltos,
Trancados em um inferno sem dó.

Vivendo onde o tudo se torna nada.
Sem visão, sem destino, sem um norte...
Dentro, em mim, eternamente calada

Tenta gritar aquela voz de morte.
Por ti, indiretamente, sussurrada
Até que o coração não mais suporte.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Horrorizonte


Noto a nuvem opaca, rubra
Como mancha de sangue frio,
Na pele morta e macilenta
Deste céu fúnebre, sem brio.

Cobertor de desilusões
Ao longe, me abraçar, tentando:
Uma nuvem de encontro ao chão
De aspecto sórdido e nefando.

A linha tênue que separa
Este eu mesmo daqueles eus,
Como um corte em pele viva,
Traz o depois aos olhos meus.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Cultivo um jardim de dores


Cultivo um jardim de dores,
Onde não existem cores.
Inundam-no tantas flores
Sem perfumes. Só odores.

Porém, nelas há um belo.
E todas no mesmo elo
Entoam um som singelo
Como golpes de martelo.

Os golpes estão escritos.
Por vários olhos são vistos
Os sentimentos aflitos

Nascidos não de conflitos
Mas, por querer do jardim
Que cresce dentro de mim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Recordações


Lembro-me dos insultos.
Lembro-me da ausência de amigos.
Da inocência pintada de culpa.
Da surra por não saber.
Do medo de iniciar o futuro.

Lembro-me dos falsos amigos.
Lembro-me da solidão.
Lembro-me da auto-condenação.
Do esconder-se à sombra da cruz.
De achar que amo, que sou "normal".

Lembro-me de estar errado.
Lembro-me do inevitável.
Lembro-me de estar perturbado.
Do choro suicida.
Do ódio contra a face escura.

Lembro-me da compreensão.
Lembro-me do aceitar.
Lembro de ir em frente,
Lembro de recomeçar,
E, finalmente, lembrei de viver.

Eu quis alguém


Tudo o que eu quis foi gostar de alguém.
Eu quis gostar de alguém!
Tudo foi gostar de alguém...
O que eu quis de alguém?
Tudo foi gostar.
Tudo foi alguém...
Eu quis alguém...

Alguém foi gostar de tudo o que eu quis?
...
Alguém foi tudo o que eu quis.
Eu quis...!
Eu errei!
Eu quis gostar.

E esqueci de querer que alguém gostasse.
Que alguém gostasse...
Gostasse de mim!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Meu sonho

No meu sonho,
eu estava tão feliz, tão bem...
Finalmente havia te encontrado.

Sorria para todos
e gritava para o mundo,
narrando como acontecera.

E, como se realmente
tivesse sonhado,
eu agora estava acordado.

Chorei uma conclusão:
"Eu criei uma ilusão.
E gostei dela."

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Eu e eu

Às vezes me impressiono comigo mesmo.
Percebo o quanto sou estúpido,
o quanto não mereço amigos.


Mostro-me amável?
Sensível? Carinhoso?


Mostro-me idiota?
Arrogante? Orgulhoso?


Meus Deus, quais sãos as máscaras?
Qual destes sou eu?


Amigos, (posso chamá-los assim?)
Tenham cuidado comigo.
Fiquem longe de mim.


Não!!! Me amem, compreendam.
Me impeçam de correr para este fim...


Eu sou muito complicado.
E ele é melhor nisto do que eu.


Quem escreve não é o enjoado
É aquele que o precedeu.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma sombra





O vento sopra.
Passa suave entre as folhas das árvores,
como se estivesse procurando algo que
ali está escondido.

Com suas luzes, o sol mostra
os vários tons de verde...
Mas, no meio de toda essa paz,
há uma mancha, uma sombra diferente das outras.
Sombra que antes era luz.
Luz que quis ser sombra, e
agora deseja ser luz.

E no meio das cores, lá está a mancha.
A sombra esboçando uma alegria pálida.

O vento sopra. Tudo verde.
E o esforço do escuro desejando iluminar.
O desejo da sombra:
brilhar! Brilhar!
E... apagar?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Tormento

Será que não me canso disso?
Serei eternamente vítima dos meus caprichos?
Vivo almejando o fracasso do meu coração,
enquanto luto pela vitória exterior.

Que se danem os sentimentos!

Meu maior sentimento é a dor
que eu mesmo provoco dentro de mim.
E com ela saboreio a aflição e o desprezo
que eu mesmo criei.

Viver perturbado! Perturbado por mim.
... É agradável viver assim, e ao mesmo
tempo horrível!

Viver sufocado pela minha mente.

É agradável porque com isso fico voltado
para aquilo que muito me atrai, sentimentos escritos.
E é horrível, pois sinto a presença do fim.
... o fim...
Fim o qual sinto que será causado por mim.

Por quê?

É simples. Quando se destrói um coração
o corpo também morre.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Lento vento com o qual me contento

Lento vento com o qual me contento,
esteja atento ao meu lamento.
Entendo que és isento do meu tormento,
mas sinta o sentimento que aqui fomento.

Tento fugir deste sofrimento.
Já não aguento um mundo cinzento,
sem movimento e tão barulhento...

Oh, lento vento com o qual me contento,
aqui me sento esperando alento...
E num esquecimento tão macilento
encontro um momento no qual me ausento,
sozinho, asmento, solto no firmamento.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tu e Eu: Nós


O teu sorriso é o meu sorriso.
Tuas lágrimas são minhas lágrimas.
Tua alegria também é a minha.
Tua tristeza me despedaça.
Tuas ações são minhas ações.
E o teu querer é o meu querer.

Minha vontade é que tu Sejas,
e assim sendo eu também serei.
Por que me preocupo contigo?
Esta preocupação é egocêntrica,
pois o contigo também é comigo.

Eu queria que tu soubesses, meu caro amigo,
que me preocupo conosco,
contigo e comigo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ausência

Meus olhos estão aflitos
de tanto te procurar.
Meu pensamento aos gritos
deixando os pulmões sem ar.

Minha voz já não é voz
é suspiro sonhador,
é busca por um a sós
que o nada vai lhe propor.

Te encontro no abstrato
somente lá tu estás:
momento ingênuo, assaz...

Jamais existiu contato,
Meu mundo inteiro, quebrado,
espera ser remontado.

Querer e individualidade

As aspirações de cada um se adequam à realidade desejada.

Reticências

É... Jamais compreendi como consigo
gostar de te ter ao meu lado,
Não compreendo o prazer que sinto em ti...
Sei. Tu só vens para me machucar.

É graças a ti que tudo o que digo
ficará para sempre gravado.
Um tudo bem guardado aqui,
num espaço que o nada ocupará.

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