domingo, 29 de dezembro de 2013
Ilusão
A culpa foi minha...
Eu que pintei toda aquela história.
Eu que cosi todos os retalhos.
E, neles, continha
toda aquela linda trajetória.
Um caminho longo, sem atalhos.
Pintura de Edward Munch
sábado, 30 de novembro de 2013
Falsa desculpa
Saltou-me de dentro do peito
várias palavras de uma vez.
Aproximavam-se dos lábios
e de lá voltavam sem jeito.
Algumas, pensamentos sábios,
outras, ingênuos clichês.
No entanto, houve a que insistiu,
e voou longe sem ter motivo.
Uma desculpa, uma saída.
De tão tímida, ela mentiu,
depois disso caiu sem vida
conheceu-se adjetivo.
Pintura de Ai Shinohara
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Tem-me
Finge-me um abraço;
Cose-me um sorriso;
Tira-me o cansaço...
Dá-me o que preciso.
Fixa-me ao teu lado;
Leva-me contigo;
Pinta-me o passado...
Cala-me o que digo.
Pintura de Alberto Pancorbo
domingo, 29 de setembro de 2013
Convite
Ouvi vozes não faladas,
datadas de um dia qualquer,
que, lamuriosas, desencontradas,
diziam-me o que ninguém quer...
Falavam-me daquela fuga
que todos devem seguir.
Da despedida que o mundo julga
procurando o motivo do ir.
Chamavam-me os veículos.
Convidavam-me as explosões.
A água desenhando círculos
como cordas nos corações.
Pintura de Amber Osterhouts
terça-feira, 3 de setembro de 2013
amor Qualquer
Ao lento gemido da porta
Viu o que lhe conforta:
beijar essa boca morta.
Presença vaga e insana
que inflama na cama uma chama,
a qual não vê, não sente, nem ama.
Pintura de Edward Hopper
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Um sol
Era um sol alegre
Desses que notamos sem querer notar.
Desses que só percebemos
Quando estamos felizes.
Mas hoje foi diferente,
Eu não estava feliz.
Nem estava triste.
Estava com uma saudade.
Uma daquelas
Que não sabemos se machuca
Ou acaricia.
Notei o mundo.
O mundo como todo dia o é: feliz,
Sem a dor que lhe damos
Para entristecê-lo.
Pintura de Edward Hopper
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Anseio
Ele guardava um anseio
por vultos sentimentais.
Por algo que ainda não veio
ou não voltará jamais.
Eram memórias distantes,
infundadas na esperança.
Não mais grandezas de antes,
mas pontos que não se alcança.
Assim, esse meu eu ferido
aspira o calor do abraço,
leve sussurro ao ouvido...
Consolos de um fracasso.
Pintura de Alberto Pancorbo
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Um pensamento
Uma alegria em meu peito
voa no cantar do vento.
Sensação na qual me deito,
onde alimento este pensamento:
Poder destrancar as portas,
lançar-me de encontro ao céu.
Saber que já não te importas
com os espinhos deste teu réu.
Juntar-nos em vários laços,
atados num simples giro,
na dança dos teus abraços,
na brisa de um suspiro.
Pintura de Vladimir Kush
domingo, 2 de junho de 2013
Pessoas
Então, num ímpeto de escrever
minha mente confusa enlouquece.
Analisando o óbvio no qual não crê,
em espasmo inquietantes estremece.
Extasiada com a natureza humana,
com a capacidade cínica e fria,
que de algumas pessoas emana
de simular um gostar ou simpatia.
E, procuram, os meus olhos inocentes
na amálgama de vidas (de coisas vivas)
aquelas que são sinceras e coerentes
que não usam máscaras atrativas.
Estes meus pobres olhos enganados
não conseguem perceber a diferença.
Não entendem que somente fechados,
enxergarão além da simples presença.
Pintura de Mark Webster
sábado, 25 de maio de 2013
Dores
São inúmeros sentimentos
Lutando entre si,
Por um espaço qualquer,
Por uma chance de gritar...
Tantas dores enclausuradas,
Acorrentadas a um único ser.
A dor do esquecimento,
Da superação,
Da ausência...
Surgem também os medos.
Medo de estar aqui,
Ali e acolá.
Medo de não sentir,
De fugir
Medo de estar...
Lágrimas de solidão,
Lágrimas de arrependimento.
Gotas de insatisfação,
De morte e sepultamento.
Pintura de Alberto Pancorbo
Fiz este poema para o espetáculo METADES DE MIM, DE TI E DE NÓS, onde declamo como uma revelação do meu eu.
sábado, 11 de maio de 2013
Participado
Tantos pedaços esquecidos,
desejados e abandonados.
Alguns, tão distantes, caídos:
morimbundos, dilacerados.
Eram sonhos amedrontados,
daquele futuro inescrito.
Pela fome, tão fustigados,
de presente incerto e maldito.
Foram fagulhas esperançadas
de um forte alento anunciado.
Mais tarde lágrimas aladas
fugindo de um olho assustado.
Pintura de 非(xhxix)
domingo, 21 de abril de 2013
Saudade
O meu coração resolveu
sentir saudade de você,
porém esqueceu que sou eu
a pessoa que não quer te ver.
O porquê não é necessário...
Foi a lua que chegou tarde
para iluminar o cenário
deste encontro vil e covarde.
Não temos mais as borboletas
daqueles tempos de outrora.
Somente tintas de canetas
que não vão facilmente embora.
Pintura de Edward Hopper
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Remendo
Hoje saí recolhendo
todos os fios de sol
que encontrei pelo chão.
Então cosi um remendo
no alto daquele farol
onde vivia a escuridão.
Pintura de Vladimir Kush
segunda-feira, 18 de março de 2013
Um novo voo
e voei o mais alto que pude,
para fugir de todos os laços
que me roubavam a juventude.
Exauridas, as minhas asas
já não mantinham o voo.
Embebido nas águas rasas,
meu velho corpo, eu doo.
Desta queda nasceu a morte
que acariciou meu coração.
Hoje, sem sentido e sem norte,
ela me procura na solidão.
Pintura, The Ascension, de Cody Seekins
domingo, 10 de fevereiro de 2013
Desejo ácido
Querer os abraços teus
envolto em declarações.
É ter um gesto de adeus
suscitado em ilusões...
É ter falsa esperança.
É um chorar infinito.
Perder-se na bela dança:
um tango inerte em conflito.
Desejar os beijos, então,
será a loucura eterna.
É ter plena convicção
daquilo que me governa:
avidez pelo furtivo;
o sonhar um ideal...
Frutos do amor corrosivo,
este ácido letal...
Pintura digital do artista japonês 非(xhxix)
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Inveja
Momentos inusitados
em que mãos se encontram
antes mesmo que os olhos
conheçam os donos das mãos.
Momento em que olhos
veem as mãos abraçadas,
e esquecem-se de se encontrar.
E mãos desesperadas
tocam-se para conhecer,
ambas desejando enxergar.
Eram desejos loucos
de olhos que não podiam abraçar
e de mãos que não podiam ver.
Pintura de Renso Castaneda
domingo, 20 de janeiro de 2013
Prisão Eólica
Estou aprisionado.
Verdadeiramente,
sou pobre coitado.
Na alma, na mente:
louco e descuidado.
Perdido no ar,
jogado ao vento
sem jamais pensar
que há sofrimento
neste ar de amar.
Pintura de Deborah Richardson
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Resgate
Você que aqui estava,
tão perto sem ser notado,
liberte esta vida escrava
de um sonho despedaçado.
Tome-a em seus abraços.
Beije-a com o coração.
Desate-a desses laços.
Desafogue-a dessa paixão.
Ela também o procura.
Mesmo sem perceber
vagava na noite escura
com medo de não te ver.
Pintura de Sally Meding
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