sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Na rua


Todo dia me despedaço
para mostrar de mim o melhor.
E corro, alegre, no mormaço
como criança em quintal de avó,
iludindo-me com a presença
dos vários corpos ao meu redor...
Iguais por um único traço:
a cega e assassina indiferença.

E, do outro lado do ecrã,
choram por mim, tão humanos...
Porém me evitam os olhos insanos,
assassinando meu amanhã.
Me usam como oferenda,
me encaram em meio a enganos,
exigindo que eu aprenda
o que me negaram por anos.

Pintura de Kanaiya Art

quarta-feira, 15 de maio de 2019

(IN)contido

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Um vórtice de incongruências apoderou-se de mim...
Os artigos indefinidos tornaram-se definidos
pelo fato de serem, eles, agora, os únicos existentes.
A rotina luta e mantém alguns pensamentos unidos
numa sequência maquinal de ações sucessivas
que criam uma vida paralela entre tantas subjacentes.

Cada sussurro perdido, não ouvido ou esquecido
é lançando no confuso redemoinho do inconsciente.
Uma réstia de esperança vital, munida de qualquer luz,
perambula num vão de nadas que se unem em corrente
com o intuito de não mais serem o que nunca foram.
Assim, um eu surtado, em espasmos mudos, se reduz.

Pintura de Suzanne Roach

sábado, 27 de abril de 2019

Perfume importado

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Te vi exposto na vitrine,
daquela loja imensa
chamada rede social.
Um perfume importado,
aclamado pela imprensa
desta população local.

Resolvi ir até o balcão
para falar direct'amente
com o vendedor confiante.
Posso sentir a fragrância?
(Não sou qualquer cliente)
Ele mudou o semblante...

O frasco é só para ver.
Não há qualquer conteúdo.
Me senti desapontado...
Agradeci, dei meia-volta.
Quem é você nisso tudo?
SÓ um frasco de perfume importado...

Pintura de christian schloe

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

DESINTERESSE


Resultado de imagem para sarah joncas painting

Ele a cobriu de inverdades, enquanto ela sorria
para si mesma, reinventando uma canção
desentoada que aprendera com a avó.
Ao perceber que ela agia de forma anormal,
ele parou de falar, ficou inativo... Ela não o via,
sua vida estava superpovoada dela mesma.

Pintura de Sarah Joncas

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