quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Variegado


E que amizade é essa
envolta em beijos fraternos,
tão quentes e libidinosos?

É chama que não cessa
tais movimentos tão ternos
e abraços tão calorosos.

É o desejar constante
de um suspirar relutante.

É um querer mais que isso...
É forjar um compromisso
em almas de querer luxuriante.

Pintura de Pablo Picasso

sábado, 8 de dezembro de 2012

Bagaço


Então, foi fechada uma porta,
e restaram-me só os bagaços.
Deixarei também essa vida torta
que me acolhia em falsos abraços.

Contendo-me dentro de mim
suspirando de dor e alegria.
A horrível sensação de fim,
hoje, já não me contagia.

Se ontem eu fui bagaço
por uma troca incompreendida.
Amanhã serei, do Éden,
a fruta tão proibida.

Pintura de Anastasiia Kasianova

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Esperança


Foi uma vista da janela
em que aquele lindo mundo,
hoje, sangrento e imundo,
gritava o nome dela.

E, minúsculos sussurros,
contidos pelo grande medo,
agora não movem um dedo
diante dos grandes urros.

O mundo todo mudou
fechou-se dentro de si,
porém um apenas sorri,
contente, porque sonhou.

Pintura digital de Daniel Conway

domingo, 4 de novembro de 2012

Outra lembrança


E mais palavras aparecem
vêm e ficam (sem estar aqui)
onde se ausentam, fenecem...
São aquelas lembranças de ti.

Que cantam nos pensamentos,
e subtraem-me para um infinito
onde vivemos lindos momentos,
tu e eu, eu e eu e este grito.

Pintura de George Grie

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Poema de despedida


Então, minha Flor,
me convidaste para o quintal vizinho?
Não sei se vou,
penso que lá existe somente espinho.

Mas, não sofra, Flor,
aqui te encontro em nosso ninho.
Cura-te dessa dor
e vai em direção ao teu caminho.

E, lembra-te, Flor,
me deste tua semente de carinho.
Que me dá nova cor
e converte-me em novo passarinho.

Do seu amor,
o Beija-Flor.

Pintura de Vladimir Kush

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Janela aberta



O que te prende aqui?
Por que entra em casa
e não se ausenta da janela?
Permaneces fixamente aí
como uma imagem na tela.

Se não te importo mais
o que te prende aqui?
Vá e pula para fora!
Vá e me deixe em paz.
O que te prendia mandaste embora...

O que te prende aqui?

Pintura de Salvador Dali

domingo, 23 de setembro de 2012

Suicídio

Escuto aliterações.
Sibiladas, convulsivas,
cortadas, persuasivas
alimentam tais visões.

O repetir infernal,
sem se cansar dessa sina,
sussurra a cena assassina.
Aponta, indica um final.

Pintura de Vincent Van Gogh

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um querer


Um querer sozinho e triste,
louco por uma ilusão,
mesmo ferido, persiste.
Entrega-se a esta paixão.

Ele sozinho é esperança,
é um confronto suicida.
Apenas com a confiança,
sua arma nunca exaurida.

Assim, vi aquela vontade
imponente, assim, tão forte.
Sozinha com sua verdade
lançada à própria sorte.

Pintura de Dimitri Kozma

domingo, 26 de agosto de 2012

Ontem, te vi


Ontem, te vi...
Vi como se nunca houvesse visto;
Vi como se jamais pudesse ver;
Vi como se tudo fosse previsto:
Eu, sem nada dizer.

Hoje, já não te vi...
Chorei como se estivesse ferido;
Gritei como se quisesse morrer;
Senti a veracidade e o sentido
da "dor que desatina sem doer".

Pintura: Melancolia, Edvard Munch

terça-feira, 24 de julho de 2012

Margarida


Uma flor sorrindo, contida de emoção,
despetalada por um bem-me-quer,
suporta até mesmo um mal-me-quer
dos apelos esperançosos de um  coração.

A grande saudade de um pedaço seu,
não notada por aquele que a matava,
se convertia na dor que orvalhava
nas manhãs que o novo dia ofereceu.

Pintura de Donald Zolan

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Paciência cega


Há dias para sorrir.
Há dias que choro.
Houve um dia em que só eu vi
tua imagem que tanto adoro.

Há um dia para ti.
Houve dia para nós.
Quantos dias felizes perdi
nesta espera solitária e atroz?

Pintura de Alyssa Monks

domingo, 24 de junho de 2012

Pueril


Recordar um sonho não sonhado
onde a realidade da lembrança
não afetava meu desejo alado,
nem me traía a confiança.

Onde o que hoje leio e escuto
não tinha o peso da verdade.
E sem feridas e cenas de luto,
pareciam outra realidade.

Uma outra tão quieta e distante
vista de longe inalcançavel,
como um livro em alta estante

sem qualquer meio imaginável
de se obter um vão acesso.
Páginas de um sofrer confesso.

Pintura Criança e Sol, de Iman Maleki

domingo, 27 de maio de 2012

Fim


As palavras de arrependimento
e as muitas lágrimas derramadas
foram, quem sabe, só fingimento,
emoções falsas e descaradas...

Súplicas melódicas e açucaradas
cortavam-me o coração
e nas veias desesperadas
corria dolorosa canção.

Apiedaram-se os olhos meus,
meu abraço se tornou gigante
e cercava firme aquele adeus
para sentí-lo, assim, tão distante.

Pintura de Alberto Pancorbo

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Anonimato


Sentir pulsarem as veias
desta vida inquieta e doentia
é ver, completamente, cheias
as mãos de quem acaricia.

Mesmo na humilde fagulha,
que brilha em escuro olhar,
é possível ver quem mergulha
nas lágrimas deste imenso mar.

É aquele não conhecido,
lembrado no esquecimento,
que grita sem ser ouvido
por estar preso aqui dentro.

Pintura de Alex Stevenson Díaz

terça-feira, 1 de maio de 2012

As vezes da palavra


Às vezes as palavras correm,
escapam e saem de outra boca
ou se escondem em outra mente.
E assim muitos amores sofrem,
como se fossem pintura barroca,
por negarem aquilo que sente.

Às vezes as palavras gritam,
fortes e facilmente proferidas.
Cantam com grande facilidade,
aos corações que tanto se fitam,
canções nunca antes ouvidas
que os preenchem de verdade.

Às vezes as palavras estão aí,
esperando por alguém que as ame
e que sem medo ou arrependimento
possa usar delas como quem ri
de qualquer pessoa que o chame
de louco, ingênuo sem entendimento.

Pintura de Dyanne Parker

terça-feira, 17 de abril de 2012

Desejo



Existe uma fome
de um não sei o quê;
uma coisa sem nome,
algo que não se vê.

Há uma vontade.
Uma ânsia enlouquecida
que tem gosto de saudade,
saudade de gente querida.

É um querer tão grande
que destrói outros quereres.
Sentimento que se expande
ao suscitar tantos prazeres.

Pintura de Renso Castaneda

segunda-feira, 26 de março de 2012

Loucura



E fico a me perguntar,
como idiota sem noção,
isso é realmente amar:
ter um aperto no coração?

E pergunto uma outra vez
se tal aperto é somente meu.
Se a besteira que você fez
é um nada que aconteceu.

Por um lado pode ser nada,
tolices ou apenas loucura.
Mas, e se for simples facada,
que mata e não tem cura?

Pintura de Adolphe William Bouguereau

quarta-feira, 14 de março de 2012

Início


Eclodiu como um corte,
uma incisão na artéria.
E gritou a voz da morte:
(para a vida sem sorte)
Dor, doença e miséria!

Não foi apenas sofrer.
Foi também loucura.
Enigma de um viver,
triste sina de um ser:
mal interno sem cura.

Assim nasceu o poeta
que em pesar conheci.
Vida calada, inquieta,
de aparência discreta
que em palavras despi.

Pintura: La columna rota, de Frida Kahlo

sábado, 3 de março de 2012

Arriscar-se


Vou apenas desviar o olhar
E dizer que a razão é tua,
concordar com o seu pensar
e lançar meus quereres na rua.

Vou despistar minhas ideias
e concentrar-me numa missão:
sorrir nesta linda estreia
para alcançar teu coração.

Porém, é primeiro encontro...
O primeiro de anteriores.
O único que é confronto
de sentimentos superiores.

Pintura de Nicoletta Ceccoli

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Caminhos

E surgiram vários caminhos
que apontavam tantas razões...
Continham sentimentos vizinhos,
alguns pintados de desilusões.

Vozes de todos os lados
me diziam o que fazer.
E braços em mim agarrados
seguravam-me pra eu não correr.

A escolha não era feita.
E esta vontade não é a minha.
Esta vida de aparência perfeita
é uma outra que morreu sozinha.

Pintura de Tania Corsini

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A porta


Então, fechou-se a minha porta de fuga ...
A loucura veio como uma martelada,
e o desespero foi para as mãos
que correram trêmulas até a cabeça...

Lágrimas saltavam dos olhos perdidos.
Nenhuma luz mostrava uma saída
e tudo parecia desmoronar!
Estava tudo sem rima, sem métrica...

Olhei para os lados. Uma opção? Sim!
Uma janela aberta: uma corda para agarrar...
Um farelo de esperança cai de uma lágrima.
Absorto, felicíssimo: a porta dos fundos aberta!

Pintura "Desespero", de Fátima Carvalho

sábado, 28 de janeiro de 2012

Decisões


Então nasce um sorriso nos lábios...
Uma ideia surge para uma nova vida.
E o que antes era semente, hoje é sábio
que forja, na experiência, uma saída.


Fluem novas palavras e novas ações,
juntas celebradas como em um festival.
Todas ouvidas, sujeitas a correções,
lapidadas para um golpe mortal.

Todas as decisões surgem assim:
surpresas alegres de um novo saber.
Confiantes em um trabalho sem fim
e manchadas de um sangue sem ser.


Pintura de Renso Castaneda, Memorias

domingo, 15 de janeiro de 2012

Compreenda-me


Não me tenhas como um troféu,
que fica largado numa estante.
Tenha-me como um amuleto
que vai sempre contigo.

Quando me disseres sim, eu também direi,
e se por acaso, me disseres não
ainda permanecerei no sim.

Não me compreendas sendo TU,
me compreendas sendo EU,
só assim perceberás que ME amo.

Pintura digital do japonês  非(xhxix)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Insulto


Eram as mesmas falas amarelas,
já tão cansadas de estarem lá...
E agora, desamparadas, elas
apenas murmuram o seu findar.

Gritavam, altas, tão eloquentes.
Xingavam, envenenadas e cegas.
Agora, caladas, rangem os dentes,
recebem de volta suas entregas.

Mas, não vá, fique por favor,
Eu exijo sua cordial presença.
Veja, como sou, seja o que for,
Sou apenas aquele que pensa.

Pintura: Juízo final, Michelangelo

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